Fátima Lopes, no seu programa de entretenimento da TVI, começou por pagar contas inusitadas. Porém, depressa percebeu que o ‘Agora É que Conta’ precisava de uma vertente mais didáctica. Já Conceição Lino, na SIC, acaba de introduzir no ‘Boa Tarde’ uma rubrica que dá aconselhamento financeiro a famílias sobreendividadas. Para as televisões, ajudar a combater a crise tornou-se um imperativo e um novo foco para cativar audiências. Ainda mais se as histórias tiverem um final feliz.
"Temos um País de pessoas estranguladas", disse à Correio TV Conceição Lino, impressionada com as dezenas de pedidos de ajuda que chegam à SIC desde que o ‘Boa Tarde’ arrancou com a promoção à nova rubrica sobre economia doméstica. "Vamos apostar na reeducação financeira das famílias, pois isso é algo com que nos temos de preocupar. As pessoas têm de ter consciência de quanto ganham e do que podem gastar. Precisam de estar mais informadas sobre o assunto", acrescentou a apresentadora do programas das tardes da SIC, que todas as semanas apresentará um caso de uma família sobreendividada. "Vamos escolher casos com que as pessoas podem identificar-se. Há situações em que as dívidas surgem aliadas ao desemprego, por exemplo. Há muita gente desamparada". Desde o início de ‘Boa Tarde’ que Conceição Lino pretendia ajudar pessoas com dificuldades em saldar dívidas e prestações, através do aconselhamento financeiro. Mas só agora é que a ideia foi colocada em prática. "É um programa muito exigente e não pudemos fazer tudo logo no início", justificou. Florbela Oliveira, directora-geral da Planoviável, empresa de consultoria de endividamento, é a nova presença fixa no ‘Boa Tarde’, onde dá conselhos sobre finanças e sugere soluções para a crise. Como gerir um orçamento, confeccionar refeições baratas e saudáveis, reutilizar roupas ou rentabilizar recursos financeiros serão algumas das muitas dicas a dar aos telespectadores da SIC. "Vamos ensinar as famílias a esticar o rendimento e a encurtar as despesas. A ajuda passa pelo esclarecimento", adiantou Florbela Oliveira. Entre os muitos casos que vão ser apresentados na rubrica sobre economias domésticas vai estar o de um casal que, tendo ficado desempregado, recorreu ao microcrédito para criar uma empresa familiar. "Sem preparação, o negócio surgiu mal alicercado e não vingou. Com a insolvência empresarial, o casal agravou as suas dívidas e, agora, nem direito a subsídio de desemprego tem".
Cada vez mais apostada em ajudar o público está também Fátima Lopes, na TVI, com o ‘Agora É que Conta’. Depois de liquidar contas inusitadas, a apresentadora, tocada pelos muitos pedidos e situações aflitivas de famílias que têm chegado à estação, quer ir mais longe. "O programa tem uma vertente pedagógica. Por exemplo, quando pagamos uma conta da EDP também damos dicas sobre como poupar. Quem em casa vê o programa e está numa situação mais grave do que aquela que ali apresentamos encontra no nosso site informações que a poderão ajudar passo a passo", explicou Fátima Lopes na apresentação do programa. "Satisfeita" com as audiências que "cumprem os objectivos" da TVI, Fátima Lopes sabe que "com a crise não faltam concorrentes". "Toda a gente tem uma história para contar à volta de uma conta. E há contas que nos chegam do País inteiro, de Viseu ao Algarve", afirmou, consciente de que "o programa tem muito espaço para se reciclar internamente e tem uma dinâmica que o pode fazer durar anos". "Divertir e ajudar quem precisa" é o objectivo de ‘Agora É que Conta’, que, às sextas-feiras, conta com a participação de famosos e ajuda instituições de solidariedade. Esta é uma das novidades do programa, "que ainda vai sofrer ajustes", adiantou a TVI. "Já estamos a trabalhar o formato para 2011", anunciou a apresentadora. Sobre Conceição Lino, Fátima Lopes elogia-lhe o profissionalismo: "É uma belíssima jornalista. Conduz muito bem entrevistas. Anda à procura de um registo mais informal e está a conseguir lá chegar rapidamente. O programa revela, também, que ela é uma pessoa animada e bem-disposta, faceta que o público não conhecia".
Ajudar pessoas com dívidas não é novidade no meio televisivo, mas o filão está a ganhar cada vez mais força. "No Norte da Europa existem vários programas de ‘makeover financeiro’, em que profissionais ajudam famílias com problemas através de consultoria. O conceito não é novo, mas a crise ajudou a estimular estes formatos", afirmou Piet-Hein Bakker, da produtora CBV. Frederico Ferreira de Almeida, da Fremantle, entende que este tipo de programa "tem uma componente interessante ao ajudar famílias em situação de aperto financeiro", mas adiantou: "Creio é que se poderia ir mais longe do que pagar contas de pequenos montantes". Ao tomar conhecimento da intenção do ‘Boa Tarde’ em avançar com soluções para as famílias sobreendividadas, Frederico Ferreira de Almeida comentou: "Há já uma linha de formato internacional que vai nesse sentido. Neste âmbito, existe uma área por explorar em Portugal". Já Fernando Sobral diz que "no meio da crise todas as dádivas são boas. Já é altura das televisões deixarem de oferecer carros a quem pode não vir a ter dinheiro para comprar gasolina. E a crise há-de fomentar a imaginação. A seguir a isto também hão-de chegar cá os reality shows sobre o tema. É só uma questão de tempo". O crítico de televisão alertou ainda para o facto de que "nenhum canal comercial oferece dinheiro se não for para ganhar algo em troca. Tudo serve para garantir audiências. Até a crise financeira". Felisbela Lopes, pró-reitora da Universidade do Minho, concorda. "A crise está a tornar-se num pólo de atracção de audiências. É o fenómeno da ‘TV Espelho’, em que as pessoas se identificam com os programas. A ideia de ajudar as pessoas é salutar, pois as televisões têm responsabilidade social. Contudo, é preciso ter em conta que é a imagem das pessoas que está em jogo".
‘Downsized’ é o reality show do momento. Emitido no canal norte-americano WeTV, o formato, de oito episódios, acompanha o casal Laura e Todd Bruce, cuja empresa de construção civil, que lhes garantia cerca de um milhão de euros por ano, faliu. Agora, eles contam os tostões para ir ao supermercado, ao mesmo tempo que os sete fi-lhos aprendem a fazer tudo para minimizar o aperto financeiro: desde vasculhar no lixo a vender pertences, como a sua bola de basebol favorita. "É a realidade económica que vivemos", afirma John Miller, director de Programas da WeTV. A família Bruce é um bom exemplo de ‘novos pobres’. Num dos episódios, Bruce faz tudo para não ter de pedir dinheiro ao sogro. Noutro, a filha de 17 anos tenta comprar comida no supermercado e o cartão de crédito é rejeitado. Bruce pediu empréstimo para pagar aos empregados e Laura, professora de profissão, está a servir às mesas e a dar aulas de fitness. Face à crise, resolveram responder a um anúncio para um formato de televisão que pedia pessoas que queriam poupar dinheiro. A sua participação no programa é remunerada, mas as dívidas são muitas.
A crise também fez subir as audiências do programa de Suze Orman, na CNBC, a célebre conselheira financeira que costuma ir ao ‘The Oprah Winfrey Show’ e que já esteve na bancarrota. Vencedora de dois Emmy, foi considerada uma das figuras mais influentes da televisão pela revista ‘Forbes’. *Com S.P. e T.O.
INICIATIVA DE AJUDAR A PAGAR CONTAS COMEÇOU NA RÁDIO
O passatempo ‘Pedro Tojal Está de Volta e Paga as Suas Contas’ decorreu de 1 de Maio até 29 de Julho de 2010. A iniciativa registou um total de 421 participantes e envolveu prémios no valor de 35 782 euros. Em Agosto, a Rádio Santiago, de Guimarães, ofereceu publicidade gratuita às empresas que pagavam as dívidas dos ouvintes.
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