Desde Setembro que está na SIC, qual o balanço?
Tem sido muito positivo nestes dois meses. Já trabalhámos muito e estamos, neste momento, a concentrarmo-nos no ano que vem. À excepção do ‘Especial 18 anos’, que foi obra minha, tudo o resto já existia.
Que mudanças pretende introduzir na SIC?
Criar um novo modelo de produção. Descobri que a SIC tem uma série de bons profissionais. Bons produtores, bons realizadores. A SIC tem tudo para ser uma boa produtora interna. Tem os estúdios, tem meios humanos e técnicos e, acima de tudo, tem um manancial brutal e histórico. Durante anos estes profissionais fizeram grandes projectos e é possível voltar a fazê-los. O que me pareceu é que as pessoas estavam um pouco desalentadas. Portanto a minha ideia é pô-las a trabalhar naquilo em que são boas. Não só na produção, como até no acompanhamento da produção externa.
Em que sentido?
A estação tem que imputar uma linha de estratégia de produção. O produtor está ali para fazer a produção do evento, depois tem de o acompanhar. Ao longo dos 12 anos que trabalhei na TVI, uma das coisas que aprendi foi que a adaptação dos conteúdos à nossa realidade é extremamente importante. Acho que é parte do sucesso.
Quando entrou disse que tinha algumas ideias...
Mas não posso falar delas. Não é bom dar trunfos à concorrência.
Mas já está a trabalhar nesses "trunfos"?
Sim, claro. Nós estamos a trabalhar em várias frentes: vamos ter uma nova linha de ficção – está a ser preparada uma novela que vai substituir ‘Laços de Sangue’ – estamos a trabalhar em produtos para o próximo ano. Vamos ter produtos de entretenimento, realitys, talent shows... A grelha da SIC vai enriquecer. Vai ter mais diversidade. Vamos ser muito competitivos.
É difícil vir de um canal ganhador para um que perdeu a liderança?
A SIC é uma grande marca e continua a ser. Teve um período dramático, sofreu uma série de convulsões internas com gestões umas após as outras que não correram bem. As heranças são terríveis. Portanto, agarrar nos cacos de uma estação que tem o ADN de uma grande estação não é fácil.
Como é que a SIC pode voltar a liderar?
Esse é o maior segredo de todos (risos).
Não o pode revelar?
Não. Mas posso dizer o seguinte: quando entrei para a TVI, em 1999, era uma estação que não existia. Tinha 14 por cento de share, uma grelha de retalhos, de séries enlatadas, de programas desgarrados... tudo barato e de série B. A SIC era líder de mercado. E um dia, ao fim de um ano, nós mudámos o paradigma da TV em Portugal e a TVI passou a liderar. Portanto, se isso aconteceu em 1999, por que não agora?! Está bem que tinha o Moniz, mas agora tenho o Luís Marques [director-geral] e o Nuno Santos [director de Programas] e uma série de pessoas competentes. Na televisão, umas vezes estamos à frente, outras atrás. E o que acontece em Portugal é que nem sempre os modelos de televisão são sustentados por muito tempo. E eu sei o que está na TVI, eu sei como é que aquilo foi feito.
É difícil para si combater o que ajudou a construir?
É muito difícil. Devo dizer que, por vezes, é mesmo angustiante combater a TVI. Fiz uma série de coisas e agora construir deste lado não é fácil. Criei um mainstream de actores, um star system, sequei completamente o mercado, e agora deste lado tenho de combater. É difícil, mas não é impossível.
E a Gabriela Sobral sabe como fazê-lo...
E eu sei como se faz. Mas não é ao fim de dois meses. É preciso tempo e muito trabalho. Requer uma concentração brutal. E trabalhar noutras frentes. Dar ao telespectador aquilo que ele não tem do outro lado. Temos um perfil de público na SIC, por exemplo, que a TVI não tem.
O telespectador SIC é mais exigente?
A TVI tem produtos muito populares, mas vocacionados para aquela população muito passiva. É um target mais velho. Na SIC temos um público muito mais jovem, mais activo, porém, muito mais volátil. São os públicos consumidores.
O que agora facilita o seu trabalho.
Enaltece o meu trabalho. Ter uma programação diversificada, para todos os géneros. Vamos continuar na trajectória dos realitys.
E os ‘seus’ actores da TVI. Vai buscá-los?
Não sei...
Mas quer tê-los na SIC?
Como deve calcular, sim. Quero ter actores que eu acho que são uma referência no panorama nacional.
É sua ideia produzir uma novela ou uma série para a SIC?
Acho que a SIC tem de apostar em formatos diferentes de ficção que não a novela. Acho que temos a ganhar com isso. A nossa ideia é criar novas linhas de produção. A ficção só tem sucesso se for abrangente e com maior espectro.
Qual a sua estratégia?
Em 2011, as pessoas vão ter uma boa surpresa com a SIC.
Estamos a falar de...
Estamos a falar da maneira como os portugueses vão olhar para a SIC. Vamos apostar aqui em diversas faixas. Vamos reforçar o day time, que vai mudar.
E a Júlia Pinheiro? Vai trazê-la para a estação?
Não posso dizer que sim a uma coisa que é uma decisão dela.
Mas convidou-a?
Não, porque não se convida uma pessoa assim.Eu seii qual é a vida da Júlia daquele lado. Não tenho capacidade para a convidar.
É uma questão financeira?
Não, não é. A Júlia, neste momento, tem compromissos com a outra estação. E tem um contrato. É óbvio que as coisas não são para sempre.
E os contratos acabam...
E os contratos acabam. Mas se pudesse, ia buscá-la amanhã. É das pessoas mais estimulantes com quem trabalhei até hoje e tem o mesmo entendimento de televisão que eu tenho. Ela foi sempre uma motivação muito grande. Acredito que, um dia, vou conseguir tê-la.
Falou que a SIC tem bons profissionais. Que ainda tem muito a fazer...
Até aqui, digamos, que estou a conhecer o terreno, a ler os dossiês, em reuniões com as direcções. E ao mesmo tempo a projectar trabalho para os próximos cinco anos afincadamente. Mas sinto que é um trabalho que vai dar frutos muito breve. Tenho um director-geral que me apoia e que é um gestor a sério, e um director de Programas que me ouve e trabalha em parceria.
E a sua equipa?
Tenho uma boa equipa. Muito experiente. Este, confesso, era um grande receio. Tive uma boa experiência com o projecto ‘18 Anos SIC’, eles foram irrepreensíveis. Sem eles era quase impraticável fazer o projecto. Até lhes mandei uma nota a agradecer.
E quanto aos canais temáticos. Que mudanças?
A SIC Mulher tem uma linha interessante, bem esgalhada. A SIC Radical precisa ali de levar uma volta. Mas é um target difícil, que está simultaneamente na internet...
Mas a Gabriela sabe lidar com esses públicos, sendo que se trata do target ‘Morangos com Açúcar’ (TVI)...
É verdade, confesso que às vezes custa-me ver os ‘Morangos’ perder, o que está a acontecer... Mas depois penso: ainda bem (risos). Às vezes tenho esta dualidade. São sentimentos antagónicos. Mas depois penso: ainda só estou na SIC há dois meses. É pouco tempo. Mas isso é estimulante, porque está tudo para fazer.
Entretanto, Ana Torres [produtora] despediu-se da Plural (Media Capital). É alguém com quem trabalhou...
Toda a gente percebe por que é que ela se foi embora. A Ana é uma grande profissional e foi levada por mim para a Plural. Na altura, o Bernardo Bairrão [administrador da Media Capital] perguntou-me se eu conhecia alguém para a produtora e eu lembrei-me dela. Ela entrou de imediato e era a minha interlocutora na Plural.
PERFIL
Gabriela Valsassina Sobral, 43 anos, começou a trabalhar na produtora Latino Europa (Pop Off). A primeira experiência que teve em TV foi com a ‘Rua Sésamo’ (RTP). Foi levada por José Eduardo Moniz para a TVI, onde ajudou a construir a grelha do canal que é líder. "Fui muito feliz na TVI durante 11 anos. Mas agora estou muito feliz com este novo desafio na SIC". Há 11 anos que acorda às "8 horas da manhã com o resultado das audiências" e "hoje dou mais importância a isso do que alguma vez dei".
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